El Chaltén: relato dos meus 7 dias na cidade do Fitz Roy

El Chaltén: relato dos meus 7 dias na cidade do Fitz Roy

Essa a é a continuação de uma série de posts relatando a minha experiência viajando sozinha na Patagônia. A continuação está linkada ao final desse post ou você pode encontrar clicando aqui.

DIA 12 – DE EL CALAFATE A EL CHALTÉN

Após o Perito Moreno, segui para o último destino da minha viagem: El Chaltén, a cidade do trekking e do alpinismo.

Foram 3h de ônibus saindo de El Calafate (ARS 1.800 ida e volta) e na chegada já fiquei chocada com a visão do ônibus! O tempo estava completamente aberto, pude ver de longe o Fitz Roy.

Me hospedei no Lo de Trivi por 1 semana, o pior hostel da viagem e o que fiquei mais tempo. El Chálten é pequena e as hospedagens são caras, então acaba não sobrando muita opção. O quarto que fiquei era bem pequeno e a cozinha estava sempre suja. Não por falta de limpeza, muito pelo contrário porque eu vi eles limpando todos os dias, mas como o hostel é grande e tem muita gente, as pessoas que não mantinham a limpeza mesmo…

Talvez eu teria pegado um quarto superior, mas eu me adapto fácil e no fim foi “ok”. O cara da recepção também era muito arrogante, tinha dias que tava num super mal humor. Outros hóspedes tiveram problemas com ele hehehe. A Carla ficou no Hospedaje Lo de Guille, lugar tem café da manhã incluso e é bem fofo, o pessoal da recepção muito gentil também, uma experiência completamente diferente da minha hahaha

Assim que cheguei, tive um problema com o dinheiro, meus pesos argentinos acabaram quando paguei o hostel porque não aceitaram uns dólares que estavam riscados. Agora sei que meu dinheiro só acabou porque né… eu estava com R$ 900,00 a menos convertidos, conforme já relatei o problema com o Banco do Aeroporto Ezeiza. Nessa hora fiquei beeeem estressada e de mal humor, mas logo resolvi tudo. Foi um dia bem pesado e eu estava chateada.

Depois, encontrei a Carla novamente e fomos até um dos mirantes que tem vista pra toda a cidade. Grande sorte que esses dias o tempo estava 100% aberto o que é raridade na Patagônia. As montanhas passaram o dia todo se exibindo e esse foi um dos poucos dias que isso aconteceu. Nas fotos também conseguem ver o tamanho de El Chaltén, bem pequena e fofa. A Carla fez janta gostosa para nós e tomamos um vinho. Decidimos dormir mais cedo porque o último dia do ano seria a ida ao Fitz Roy! Quando voltei ao hostel, encontrei dois brasileiros que ficariam bastante dias por lá, assim como eu. Conversamos rapidinho e eu segui meu plano de dormir para aguentar os 20km de trilha do dia seguinte.

DIA 13 – 31/12/2019 – LAGUNA DE LOS TRES – FITZ ROY 

No meu roteiro inicial não estava planejado, mas quando conheci a Carla, ela sugeriu que no dia 31/12/2019 fizéssemos a trilha ao Fitz Roy, a famosa e desafiadora Laguna de Los Tres. Uma forma de encerrar o difícil 2019 que havia sido bem pesado para nós duas. Para colaborar com os planos, a previsão do tempo estava simplesmente maravilhosa. Praticamente um dia de verão (até calor) sem nuvens no céu.

Começamos pela Hosteria Pilar para economizar 2km de subida. Custou ARS 500 e reservamos no hostel da Carla, mas em todos os lugares é o mesmo valor e é bem fácil de reservar de um dia para o outro. O caminho todo por ali é lindo, passa por um mirante do Glaciar Piedras Blancas e é uma visão diferente do que começar a trilha tradicional do Fitz Roy que sai do centro de El Chaltén (todas as trilhas de El Chaltén são autoguiadas e sem custo). 

Mirador Glaciar Piedras Blancas, a temida subida ao fundo da última foto, um rastro no meio do verde

Como eu já tinha feito a trilha de Torres del Paine, estava muito mais confiante, mas acordei o dia meio estranha… ansiosa e bem introspectiva, devia ser porque era o último dia de um ano muito complicado para mim. Fizemos a trilha tranquilas, parando bastante para fotos. Começamos as 9h na entrada da trilha pela Pilar e as 11:30h avistamos a temida subida que todos alertavam pela internet. Ela realmente é íngreme e longa, vendo de longe, entendi a fama e imaginei ser mais pesada que Torres del Paine.

Senti um pouco de medo e insegurança e então segui sozinha, a Carla optou por esperar na área antes da subida. Como o tempo estava muito aberto, a trilha estava lotada, então pessoas passam por você o tempo todo e não é realmente sozinha. É bem demarcada, não há dúvidas de onde seguir e eu levei 1:30h para fazer o tal do km final. Sei lá, nessas horas eu nem penso muito, vou apenas andando e andando com esperança do destino chegar logo. Eu geralmente não paro por muito tempo, apenas para tomar folego e continuar. O mapa que eu tinha baixado não funcionou e quando batia o desespero eu nem conseguia ver o quanto faltava hahaha Perguntei para uma mulher e ela me avisou que eu estava ainda na metade…

Quando finalmente cheguei, a vista lá de cima era impressionante e recompensadora. Sem dúvida o dia de sol deixou ainda mais mágico, as montanhas sem nuvens, a água azul e um monte de gente tão feliz quanto eu de estar lá. Foi a primeira vez que fiquei um pouco triste de não ter ninguém comigo compartilhando esse momento, acho que criei expectativa de que a Carla estaria lá comigo, tem disso também quando se viaja sozinha e quer bater um papo sobre as sensações no momento presente. Então almocei, tirei fotos, pedi para pessoas tirarem fotos minhas e fiquei um bom tempo por lá contemplando e vivendo, observando ao meu redor. 

A gente chega por cima da Laguna de los Tres, então ainda tem que descer caso queira colocar o pé na água (meu caso) e na esquerda tem mais uma subida com a vista espetacular da Laguna Sucia. TEM QUE IR! Eu estava bem cansada, mas já que estava ali, o que era mais uma subida não é mesmo?! Hahaha

Conversei com um cara de camisa do Flamengo, na esperança de ser brasileiro, mas ele não era… só havia morado muito tempo no Brasil hahaha Ainda assim, ele tirou fotos minhas. Depois um casal de Brasileiros chegou perto, eles estavam fotografando muuuuuito, com várias câmeras profissionais e dos mais diversos ângulos, achei fofo porque falaram “você precisa de alguma ajuda que somente brasileiro entende?”. Ah, essas pessoas boas que surgem no caminho  Me faz acreditar que o mundo é um lugar com mais gente legal do que ruim. 

Chegou a hora de ir embora e foi só aí que realmente me emocionei porque pensei e fiz uma revisão de tudo que 2019 representou para mim. Lá estava eu no último dia do ano em uma montanha grandiosa, mas foram poucas lágrimas que rolaram nesse dia, a sensação era mais de orgulho de mim mesma, sei lá, uma felicidade de ter sobrevivido e superado tudo que 2019 me trouxe.

A volta foi um pouco mais desgastante, o cuidado é em dobro para não escorregar e se machucar. Se eu achei que ia ser mais fácil, estava enganada. Também não sabia se a Carla ainda estaria lá embaixo me esperando e ela não estava, mas tudo bem, segui sozinha e estava muito animada e energizada, as montanhas fazem isso comigo  Em seguida vi uma menina com a jaqueta laranja e achei que era ela, chamei… não era. Nisso um outro casal brasileiro me ouviu e disse que minhas amigas estavam mais pra frente, que pediram para que me avisassem, caso eles me encontrassem! Elas estavam uns 10 minutos na frente… Tão vendo como todo mundo vira amigo e se cruza? hahaha 

Pouco depois, me juntei as 3 brasileiras que, assim como eu, estavam viajando sozinhas. Elas estavam pegando um sol e aproveitando uma “praia” que tinha formado em um riozinho do caminho. Seguimos juntas. Eu e a Carla oficialmente finalizamos a trilha as 19:30h.  

Laguna Capri

Combinamos o ano novo, nos arrumamos e jantamos no hostel dela. Outra brasileira chegou naquela noite, oferecemos o que sobrou da nossa janta e convidamos ela para sair com a gente. Terminamos 2019 em um bar que tinha uma festa naquela noite (Bourbon Smokehouse), com outros brasileiros que foram surgindo e brindando a meia noite com vinho argentino. Nem nos meus maiores sonhos eu imaginaria um encerramento de ano desse jeito, reunida de pessoas com energia boa, conexões, tendo subido montanhas difíceis e andado praticamente 200km nas últimas semanas sem ter treinado para isso, sem dores. Eu estava super animada e nem parecia que tinha feito uma trilha de 10h. 

Voltei para o hostel quase as 4 da manhã depois desse loooongo dia. Ainda bem que eu estava sozinha no meu quarto e não precisei me preocupar com barulhos, dormi muito grata por toda as aventuras de 2019 e começando 2020 com uma grande comemoração.

DIA 14 – PRIMEIRO DIA DE 2020 EM EL CHALTÉN

Finalizado 2019, entrei em 2020 exausta hahah tinha ficado na festa até tarde, isso depois de ter feito a trilha do Fitz Roy, então tudo que eu precisava era descansar. A Carla iria embora, passamos o dia juntas perambulando pela cidade, até o ônibus dela sair. Foi um dia ensolarado e ótimo para trilhas, mas eu não tinha condições físicas para isso. Além disso, eu poderia dizer que todo o meu roteiro foi cumprido, então os próximos dias foram com poucas emoções. Sofri com a despedida da Carla, foi uma conexão muito boa proporcionada pelo Mochileiros.com e uma amiga para vida!

Nesse dia aconteceu minha primeira história constrangedora de hospedagem em hostel: o quarto que eu estava era de apenas 3 pessoas, chegou 2 alemães que a princípio foram muito simpáticos, mas eles chegaram de madrugada e um deles trouxe uma menina para o quarto hehehe não preciso dar mais detalhes né? A sorte é que na noite seguinte eles ficaram de boa e foram embora. 

DIA 15 – EL CHALTÉN – CHORRILLO DEL SALTO

O sol desapareceu e os dias começaram a ficar nublados e instáveis. Encontrei o Leonardo, outro brasileiro que estava no meu hostel e fizemos juntos a Chorrillo del Salto, essa é uma trilha de 3km até uma cachoeira, bem tranquila e rápida. Rola chegar de carro bem perto pela estrada, caso esteja em família/pessoas que não fazem trilhas. Ficamos um tempo por lá, li meu livro e voltamos para almoçar e descansar mais haha.

No fim do dia, fui tomar sorvete (o da fruta de Calafate é maravilhoso, experimentem) com os meninos (encontrei o Vinícius, que também conheci no Mochileiros antes de viajar) e terminamos a noite bebendo cerveja nos famosos Happy Hours de El Chaltén. Na mesa também reuniu uns canadenses e conversamos por um tempo… como agora escrevo do Brasil, posso dizer que esses encontros com pessoas aleatórias e trocas é algo que sinto bastante falta.

DIA 16 – EL CHALTÉN – MIRADOR DE LOS CONDORES Y LAS AGUILAS

O dia amanheceu chuvoso, chegou mais um monte de brasileiros no hostel, inclusive no meu quarto, fiz amizade com eles que são de Curitiba. Fizemos um almoço compartilhado com os outros meninos que eu já conhecia, dormi e descansei. No fim do dia, lá pelas 17h, eu e outros 3 brasileiros fizemos a trilha completa do Mirador de los Condores y las Águilas. A primeira parte eu já tinha feito com a Carla, como contei ali no começo do post.

Nessa época escurece só as 22h na Patagônia. O tempo já não estava tão aberto, bem mais frio e ventando. Não demoramos tanto, mas andamos uns 10km. Também caminhamos do outro lado do rio de El Chaltén, mas só para explorar um pouco mais a região, não tem nada imperdível.

Eu tinha um objetivo nessa viagem que era ir para o bar sozinha. Então fui no La Zorra sozinha comer e tomar uma cerveja, fiquei menos de 30 minutos por lá porque logo os brasileiros apareceram, um outro Peruano também e de novo eu estava rodeada de pessoas. Isso aconteceu incontáveis vezes, o mais legal é que sempre fui bem tratada mesmo estando rodeada de homens.

Acho que esse é um tópico que pode ser bem extenso (direcionado para as mulheres desse mundão) mas resumindo um pouco, apesar de o sexo masculino estar MUITO mais presente ao longo da viagem, foram pouca vezes que senti segundas intenções… quando elas existiam eram sutis, sem constrangimento ou forçando a barra, eu sempre joguei para área da amizade e não tive nenhum problema.

Teve um dia que eu estava no Tinder (kkkkkkkk) e eu encontrei aquele indiano que dividi o carro láááá em Puerto Natales, eu já estava em El Chaltén e ele também, até tínhamos combinado de encontrar para uma cerveja, mas a partir desse momento eu senti ele me tratando diferente. Oferecendo para pagar bebidas e jantas por mensagem, eu já desconversei e nem saí mais com ele, fui dormir. Inclusive nesse dia desativei a conta porque percebi que eu estava muito rodeada de homens e decidi tomar um pouco mais de cuidado, não me expor.

Acho que essas coisas a gente sente, coisa de intuição mesmo, é óbvio que sempre com muita cautela, avisando pelo menos uma pessoa aonde você vai e o que está fazendo, não imagino ter grandes problemas. Me senti MUITO segura em toda a Patagônia, não sei como é no resto do mundo. 

Nesse dia, me despedi dos meninos e fui dormir cedo para no dia seguinte fazer mais uma trilha.

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No próximo post continuo 😉

Com amor, Ana! <3

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