Carta de aniversário para mim mesma

Carta de aniversário para mim mesma

“Você está com tudo encaminhado, sendo que na última vez que você estava aqui você nem sabia como viabilizar, mas agora você tem várias boas opções, por que você fala tudo com um pé atrás? Com medo?” Essa conversa trouxe vários sentimentos e reflexões. Medo. Medo. Medo. Medo. Ele sempre aparece e me assusta. Fiz 28 anos e a palavra que mais apareceu e chamou minha atenção foi “coragem”. Coragem e medo provavelmente andam juntos.

Eu já estava com decisões tomadas quando fiz aniversário ano passado, já estava seguindo um desejo muito forte dentro de mim que era viajar por um tempo maior e, no meio do caminho, parece que tudo mudou e me trouxe até aqui, que foi também onde tudo começou: São Paulo.

Um ano atrás eu achava que iria tirar um sabático, dar uma volta ao mundo, viajar a longo prazo, sei lá. Mas em poucos meses sinto que tudo mudou. São Paulo virou lar, me vi com um ciclo de amizades, me vi me sentindo em casa. E tudo que eu imaginava? E todos os meus planos? E todas as minhas vontades? Será que a resposta era São Paulo, esse tempo todo?

Ao longo dos meus 27 anos realmente fui explorando essa cidade pela primeira vez. Foram umas 7 ou 8 mini temporadas. Escalas. Shows que nunca aconteceram e simplesmente porque eu queria estar aqui. Inclusive, encerro o meu ciclo e começo um novo na selva de pedras.

Hoje em dia eu até diria que colocar uma mochila nas costas e me jogar sozinha no mundo seja mais fácil do que essa decisão de passar uma mais uma temporada na cidade grande, que tudo me impressiona, que me faz brilhar os olhos, que agrada meu paladar, que eu encontrei conexões. É como imigrar.

Além disso tudo, paro para pensar tudo que vivi nos meus 27 anos. Foi muita coisa, sabe?! Comecei parando em SP, contra todas as estatísticas prévias da minha cabeça, me apaixonei pela cidade. Fui embora de coração partido, direto pra Bahia. Bahia essa que também me conquistou não só pelas paisagens, mas pelas energias, sabores, facilidade e simplicidade de explorar cada cantinho de um grande estado e ainda sabendo que tinha muito mais para conhecer e viver.

A Bahia me deu amizades que me levaram a São Paulo. A Bahia foi conexão pra me trazer de volta pra SP. Continuamos reencontrando, aprofundando, nos apoiando. E ainda reencontrei o amor, fui me apaixonando, criando laços, me conectando e não sabendo lidar com isso.

Voltei pra terapia.

Fui pra Noronha. Voltei pra SP. Fui pra Patagônia. Fiz o Circuito W! SOZINHA! Vi neve! Voltei pra SP.

Comecei e conclui uma formação em Yoga. Sou professora de Yoga. Dou aulas de Yoga. Tenho alunas. Recebi feedbacks lindos. Dei minha primeira aula, dei outras várias aulas e fui acompanhando a minha própria evolução. Enfrentei medos e inseguranças em relação a isso. Dei aula presencial. Dei aula online. Me emocionei dando aulas de yoga. Me senti preenchida.

Floripa. Floripa. SP. SP. SP. Amor. Amor. Amor. Amizades. Amizades. Amizades. Mudei o gosto musical.

Me senti completamente deslocada na minha cidade natal, me senti uma estranha. Me senti sozinha. Senti que não queira mais estar em casa, mas o que é casa?

Descobri essa minha nova versão se apaixonado por outra pessoa, morrendo de medo e evoluindo dentro da dinâmica a dois. Me assustou. Me assusta. Me dá medo. Vou com medo mesmo. Colocar a mochila nas costas e ser sozinha era tão mais fácil. Deixar de ser 8 ou 80.

Pensei: será que mereço tudo isso mesmo? Será que é possível ter tudo? Por que eu quero tanto? Encontrei amizades novas que parecem ser de outras vidas. Que me lembram quem posso ser. Encontrei restaurantes e comidas e diversas opções e sabores que eu nem sabia que existiam ou que eu gostava.

Me diverti pegando transporte público. Ônibus. Avião. Uber. Metrô. A pé. Decidi que queria passar um tempo em SP.

Mas e a mochila nas costas? Me pego, ainda, tentando entender essa mudança de planos e me julgo e condeno. Mas você não queria era viajar o mundo? Como que pode você ter deixado isso pra lá tão rápido? Será que é a decisão certa? Os diversos caminhos te levam ao mesmo lugar? Ansiedade. Travada para fazer malas, algo que sempre foi tão fácil.

Finalizando o ciclo dos 27 anos, começando os 28, sem ideia alguma de onde vou estar daqui um ano. Sem ideia nenhuma de que caminhos vou trilhar. Só sei que estou em SP. Passar um tempo. Quanto tempo? Não sei.

Sei que aqui eu me sinto feliz, sinto que posso ser eu mesma, sinto que preciso passar um tempo maior e viver a cidade sem a urgência de ir embora. Sei que tenho amigas incríveis que podemos sentar e papear por horas, seja com um café ou vinho. Sei que tem restaurantes e drinks para serem conhecidos. Sei que tenho várias casinhas que me acolhem. Sei que tenho um amor que posso me aconchegar e não fazer nada ou caminhar e me perder pelas ruas. Rir. E que o amor pode ser leve, mesmo eu mesma sendo negativa e querendo sabotar isso. Tenho aprendido a me relacionar amorosamente de novo e tem sido gostoso. Tem o friozinho na barriga que há anos não sentia.

Sei que nesse ciclo quero continuar com as aulas de Yoga e aprendendo mais. Sei que quero fazer algumas viagens. Sei que não faço ideia do que estarei escrevendo como retrospectiva daqui um ano.

Pra Ana do futuro: seja feliz. Nos vemos daqui 1 ano e eu espero que você esteja orgulhosa da sua nova retrospectiva quando for falar dos 28 anos, porque eu sei que eu estou muito feliz com tudo que construímos nos 27.

Vai com medo mesmo, medo e coragem, como você sempre fez. Se tudo der errado, lembra: existe errado?! Olha tudo que você fez e conquistou até aqui, você merece cada uma dessas conquistas e tem valido muito a pena estar viva, criando a realidade que o fundo da sua alma pede. Sei que todos os últimos anos tem sido essa coisa de transformações intensas, nada de marés calmas, mas talvez seja exatamente isso que você mais ama na vida, se permitir viver coisas que você nem imaginou que eram possíveis. É isso que importa.

Feliz aniversário, estou animada para saber aonde estaremos daqui um ano.

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